A Psicoterapia Positiva (PPT) está baseada em duas teorias importan­tes: a conceituação de bem-estar PERMA de Seligman e forças de caráter. O PERMA é um modelo que organiza o bem-estar em cinco compo­nentes cientificamente mensuráveis e manejáveis: Teoria do Bem-Estar (PERMA): (a) emoções positi­vas (positive), (b) engajamento (engagement), (c) relações (relationships), (d) significado (meaning) e (e) realizações (accomplishment).

Pesquisas demonstraram que o cumprimento de três dimensões de PERMA (emoções positivas, engajamento e significado) está associado a taxas mais baixas de depres­são e a maior satisfação com a vida.

PERMA

Emoções positivas – Experimentar emoções positivas como felicidade, contentamento, orgulho, serenidade, esperança, otimismo, confiança, segurança e gratidão.

Engajamento – Imergir profundamente em atividades que utilizam as próprias forças para experimentar flow, um estado ideal marcado com concentração precisa, foco intenso e motivação intrínseca para maior desenvolvimento.

Relações – Ter relações positivas, seguras e confiáveis.

Significado – Pertencer e servir a alguma coisa com um senso de propósito e a crença de que ela é maior que a própria pessoa.

Realizações – Buscar sucesso, domínio, competência e realizações por si só.

Emoções Positivas

As emoções positivas representam a dimensão hedônica da felicidade. Essa dimensão consis­te em experimentar emoções positivas sobre o passado, o presente e o futuro e aprender com­ petências para amplificar a intensidade e a du­ ração dessas emoções.

• Emoções positivas sobre o passado incluem satisfação, contentamento, concretização, orgulho e serenidade.
• Emoções positivas sobre o futuro incluem esperança e otimismo, fé, confiança e segu­rança.
• Emoções positivas sobre o presente são ex­periências complexas, como saborear e min­dfulness.

Comparadas com as emoções negativas, as emoções positivas tendem a ser transitorias; no entanto, elas desempenham um papel importante em tornar os processos de pensa­mento mais flexíveis, criativos e eficientes. Pesquisas também mos­traram que emoções positivas constroem resiliência ao “desafazerem” os efeitos das emo­ções negativas e estão fortemente associadas a longevidade, satis­fação conjugal, amizade, renda e resiliência. Barry Schwartz e colaboradores (2002) cons­tataram que clientes deprimidos que procuram terapia tendem a experimentar uma relação de menos de 0,5 para 1 de emoção positiva para emoção negativa. Aparentemente, então, essa ausência de emoções positivas é central para a psicopatologia.

Emoções positivas também impactam a saúde física. Por exemplo, agentes de saúde pública mantêm registros de doença cardíaca como causa subjacente de morte. Eles também coletam dados sobre possíveis fatores de risco, como taxas de tabagismo, obesidade, hiper­tensão e falta de exercícios. Esses dados estão disponíveis para cada condado nos Estados Unidos. Uma equipe de pesquisa da Universi­dade da Pensilvânia buscou correlacionar essa epidemiologia física com sua versão digital no Twitter. Com base em um conjunto de tweets feitos entre 2009 e 2010, esses pesquisadores estabeleceram dicionários emocionais para analisar uma amostra aleatória de tweets de indivíduos que haviam disponibilizado suas localizações. Com tweets suficientes e dados de saúde de aproximadamente 1.300 condados estadunidenses, os quais contêm 88% da po­pulação do país, eles constataram que, depois de controlar a renda e o nível educacional, as expressões de emoções negativas como raiva, estresse e fadiga nos tweets das pessoas em um determinado condado foram associadas a risco mais elevado de doença cardíaca naquele condado. Por sua vez, expressões de emoções positivas como entusiasmo e otimismo foram associadas a risco mais baixo (Eichstaedt et al., 2015).

Engajamento

Engajamento é a dimensão do bem-estar rela­cionada à busca de engajamento, envolvimento e absorção no trabalho, relações íntimas e lazer. A noção de engajamento provém do trabalho de Csikszentmihalyi (1990) sobre flow, que é o estado psicológico decorrente de intensa con­centração que tipicamente resulta em perda da noção do tempo enquanto se está engajado em uma atividade, como ao se sentir “em comu­nhão com a música”. Desde que os níveis de competência de uma pessoa sejam suficientes para enfrentar os desafios da tarefa, os indiví­duos provavelmente permanecerão profunda­mente absorvidos ou “em comunhão” com a experiência e perderão a noção da passagem do tempo. Seligman (2002a) propôs que uma ma­neira de aumentar o engajamento é identificar as forças de “assinatura” do cliente e ajudá-lo a encontrar oportunida­des de usá-las com mais frequência. IPPs que encorajam os indivíduos a usar intencionalmen­te suas forças de assinatura de novas maneiras foram identificadas como particularmente efe­tivas.

Na PPT, os clientes aprendem a realizar atividades que usam suas forças de assinatura para criar engajamento. Essas atividades são relativamente intensivas e podem incluir esca­lada em rocha; xadrez; basquete; dança; cria­ção ou experiência de arte, música ou litera­tura; atividades espirituais; interações sociais; e outras atividades criativas, como cozinhar, fazer jardinagem e brincar com uma criança. Comparadas com prazeres sensoriais, que se dissipam rapidamente, essas atividades de en­gajamento duram mais tempo, envolvem mais pensamento e interpretação e não criam hábito muito facilmente. O engajamento pode ser um antídoto importante para o tédio, a ansiedade e a depressão.

Anedonia, apatia, tédio, multitarefas e agi­tação — características de muitos transtornos psicológicos — são em grande parte manifes­tações de perturbação da atenção. O engajamento intenso elimina o tédio e a ruminação — ao se tentar realizar uma tarefa com sucesso, os recursos atencionais precisam ser ativados e direcio­nados para a tarefa em questão, dessa forma deixando menos capacidade para o proces­samento de informações autorrelevantes e relacionadas à ameaça. Além disso, um sen­timento de realização depois de feita a ativi­dade frequentemente nos deixa recordando e relaxados, que são duas formas de ruminação positiva. Essas características do engajamento foram aplicadas com sucesso a intervenções terapêuticas.

Relações

Foi alegado que todos os humanos têm uma “necessidade de pertencer” fundamental que foi moldada pela seleção natural no curso da evolução humana. Relações positivas e seguras estão for­temente relacionadas a uma sensação de bem-estar. Segundo a American Time Use Survey, passamos a maior parte das horas em que estamos acordados interagindo de uma maneira ou de outra, ativa ou passiva­mente, o que pode incluir discutir, colaborar e trocar produtos com outras pessoas. A qualidade de nos­sas relações é mais importante do que as ca­racterísticas quantitativas, como o número de amigos que temos ou o tempo que passamos juntos. Por exemplo, crianças com amplo su­porte social, incluindo os pais, pares e pro­fessores, apresentam menos psicopatologia (i.e., depressão e ansiedade) e mais bem-estar (satisfação com a vida) do que seus pares sem esses suportes, independentemente de seu de­sempenho acadêmico. Além disso, relações positi­vas não só nos protegem da psicopatologia; elas também somam longevidade.

Em 148 estudos que envolveram 308.849 participan­tes, aqueles que tinham relações sociais mais fortes apresentaram probabilidade de sobre­vivência aumentada em 50%. Esse achado permaneceu consistente comparando-se ida­de, sexo, condição de saúde inicial, causa da morte e período de follow-up. Quase todas as práticas de PPT envolviam reflexões internas da pessoa ou recordações que envolvem outros. Em um ensaio randomizado, os pesquisadores cons­tataram que indivíduos que realizavam ativi­dades focadas nas relações relatavam maior satisfação nas relações (O’Connell, O’Shea, & Gallagher, 2016).

Significado

Significado consiste de usar forças de assinatura para pertencer e servir a alguma coisa que seja maior que a própria pessoa. Victor Frankl (1963), um pioneiro no estudo do significa­do, enfatizou que a felicidade não pode ser atingida simplesmente desejando felicidade. Em vez disso, ela deve acontecer como a con­seqüência não intencional de trabalhar para um objetivo maior do que nós mesmos. As pessoas que buscam com sucesso atividades que as conectam com esses objetivos mais amplos atingem uma “vida significativa”. São inúmeras as formas como isso pode ser obtido: relações interpessoais próximas; busca de ino­vações artísticas, intelectuais ou científicas; contemplação filosófica ou religiosa; e espi­ritualidade ou outras buscas potencialmente solitárias, como a meditação. Independentemente da forma como uma pessoa estabelece uma vida significativa, fazer isso produz um sentimento de satisfação e a crença de que ela viveu bem.

Adultos com níveis mais altos de propósito na vida apresentam recuperação mais rápida de danos cerebrais. A tera­pia pode ser um investimento útil para auxi­liar os clientes a definirem e estabelecerem objetivos concretos e esclarecerem signifi­ cados abrangentes associados a esses objetivos de forma que se aumente a probabilidade de atingi-los. Há boas evidências de que ter um sentimento de significado e propósito ajuda a nos recu­perarmos rapidamente da adversidade e nos protege contra sentimentos de desesperança e falta de controle. Clientes cujas vidas estão imbuídas de significado têm mais probabilidade de persistir em vez de de­sistir diante de uma situação difícil. A PPT pode ajudar os clientes a estabelecer conexões para lidar com problemas psicológicos.

Realização

Realização pode denotar realizações objetivas e concretas; promoções; medalhas; ou recompen­sas. No entanto, a essência da realização reside na sua busca subjetiva por progresso, avanço e, em última análise, crescimento pessoal e inter­pessoal. No modelo PERMA de bem-estar, rea­lização é definida como aproveitar nossas for­ças, habilidades, talentos e competências para atingir algo que nos dá um sentimento profundo de satisfação e realização.

Realização requer o uso ativo e estratégi­co das forças (i.e., quais forças usar e quan­do) e o monitoramento atento das flutuações situacionais para fazer mudanças oportunas. Juntamente com as mudanças, realização re­quer consistência de comportamentos ou há­bitos específicos. Por fim, a realização pode ter recompensas externas, mas ela estimula o bem-estar quando buscamos e atingimos um objetivo intrinsecamente motivador e signifi­cativo.

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